quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Lamento Sertanejo... lamento urbano

Particularmente eu gosto muito de músicas e elas sempre me fazem refletir, principalmente quando estamos falando de músicas que retratam uma situação ou que relatam um sentimento.
Hoje estava ouvindo uma bela música, composta  por Gilberto Gil e Dominguinhos e interpretada por um excelente cantor, o próprio Gil. Essa música fala sobre o “lamento sertanejo”, lá do interior do mato, mas ela é tão urbana, tão minha, como se eu mesma tivesse chorado suas notas.
No trecho “Eu quase não saio. Eu quase não tenho amigos. Eu quase que não consigo. Ficar na cidade sem viver contrariado”, no retrato que ela elabora, ela é muito atual. Eu particularmente sou e sempre vivi na cidade e é praticamente impossível “ficar na cidade sem viver contrariado”. As cidades hoje são antros de modernidade, tecnologia, com discrepâncias e desigualdade absurdas.
Aos críticos podem me chamar de hipócrita, coisa que não me considero, tive uma infância numa casa de dois cômodos, tomava banho em bacia de alumínio, não havia asfalto, brincávamos no barro e éramos extremamente felizes. Desde que me entendo por adulta, sempre moramos em bairros bem localizados, com água e asfalto, hoje moro numa casa grande, bonita, espaçosa e confortável, quilômetros-luz de distancia da minha infância, mas o motivo de relatar isso aqui é porque às vezes a situação em que algumas pessoas moram é quase que inconcebível. Sei que ninguém gostaria de morar numa casa velha, mofada, num local feio, mal estruturado, visualmente mau iluminado e sujo. Mas também creio que existem pessoas que dão mais prioridade para outras coisas do que seu próprio lar. E a prioridade que digo não é nem de ter coisas caras e de ultima geração dentro de casa, é o cuidar do seu lar (diga-se Terra, leia-se cidade, bairro, rua).
Por conta disso mesmo, eu diria que, como diz a letra da música: “Eu quase não sei de nada. Sou como rês desgarrada. Nessa multidão boiada caminhando a esmo.” E essa é a sensação que tenho mesmo, caminhando a esmo, parece que todo mundo esta caminhando a esmo; indistintamente; à sorte; à toa. E todos têm muita pressa, isso que é o mais incrível, a pressa que todos tem, ninguém tem tempo para nada, ninguém pode esperar, um minuto e meio é como se vocês tivesse perdido uma hora parado naquele sinal vermelho bendito. Por conta dessa pressa, não é possível sequer respeitar as leis e as regras básicas de convivência em sociedade, o direito do outro.
Não posso dizer que sempre sou uma cidadã politicamente correta, que sempre faço de tudo o melhor possível pelo coletivo, mas na maioria das vezes sim, respeito faixas de pedestres, sinais amarelos e vermelhos, a prioridade do pedestre ou dos mais frágeis. Mas a questão não é nem essa, cada um cumprir a sua parte, minimamente, mas sim todo mundo achar que o seu é prioridade, que a sua pressa é mais urgente que a do outro, que o tempo não se pode perder e que ele vale dinheiro. Rsrsrs.... se alguém quiser “comprar” meu tempo, podemos negociar... ah isso tudo para mim é tão absurdo é tão irreal... a cidade é lugar de loucuras... e olha que minha cidade tem “apenas” 200 mil habitantes.... e daí vou correr novamente para o Gil: “Vamos fugir. Deste lugar. Vamos fugir. Tô cansado de esperar que você me carregue... ()Vamos fugir. Pr'onde haja um tobogã onde a gente escorregue... () Qualquer outro lugar comum. Outro lugar qualquer... Guaporé, Guaporé. Qualquer outro lugar ao sol. Outro lugar ao sul. Céu azul, céu azul. Onde haja só meu corpo nu. Junto ao seu corpo nú...”

Quando é que você vem...? Tô cansada de esperar...
Argh
To de saco cheio!!!!

Um comentário:

Unknown disse...

Curti! Também me identifiquei! Parabés pelo texto.